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Sobre a família tradicional brasileira, festejos de fim de ano e o mesmo mal humor de sempre.

sábado, 30 de dezembro de 2017

Nos últimos anos o termo "família tradicional brasileira" tem sido muito usado para descrever o modelo padrão de família: pai (homem hétero), mãe (mulher hétero), filhos bem educados na moral e nos bons costumes e talvez um cachorro. Não pretendo opinar sobre o verdadeiro significado desse conceito porque sinceramente não me importo. Apesar de hoje em dia já ter coragem de me declarar assumidamente homossexual, não me importo com nenhuma das duas vertentes, gays ou héteros, pois considero o ser humano um pé no saco de um modo geral, goste ele de buceta ou pinto. Vejo todos simplesmente como raça humana. Uma raça humana cansativa pra caralho. É que de repente decidi abordar o assunto por conta das festividades de final de ano. "Mas o que tem a ver o cu com as calças?", talvez vocês se perguntem, talvez não. Bem, comecei a refletir sobre o conceito de "família tradicional" porque mais uma vez, por opção, provavelmente vou passar a virada e os primeiros dias do ano sozinho, no máximo da companhia da minha tia, vendo Black Mirror na Netflix.

Entre o natal e a virada do ano o que mais vejo nas redes sociais são pessoas postando as fotos da ceia de natal com suas famílias, festas, churrascos, uma mesa colocada no quintal dos fundos com comida, cerveja, refrigerante e Simone tocando no aparelho de som ou um DVD sertanejo passando na TV com volume bem alto. Pai, mãe, avós, primos, tios e tias, todo mundo gargalhando e se divertindo como se essas duas datas, 25 e 31 de dezembro as obrigassem a isso. "Ah, mas o que há de mal nisso? Você que é um chato infeliz!". Pode ser que sim, mas não é de hoje que sinto que não me encaixo muito bem na sociedade e em alguns pontos, não sinto necessidade disso, de pensar e sentir como todos. Tenho consciência de que, pelo bem da minha própria sanidade não devo levar isso a extremos, mas muitas vezes, quando tento agir contra o que sinto, me vem uma sensação muito forte e incômoda de que estou traindo a mim mesmo.

Comecei o texto falando sobre a "família tradicional brasileira" porque enquanto caminhava a esmo recentemente pelas ruas da cidade procurando espantar meu tédio "inespantável", cheguei a conclusão de que existe mais de um tipo de família "tradicional", outro tipo de "padrãozinho", que são essas que, a cada Copa do mundo pintam a rua da frente de casa, compram suas vuvuzelas, se vestem e pintam de verde e amarelo e se reunem na sala para gritar e torcer por algo que não vai mudar de forma alguma suas vidas. Essas que, no aniversário da tataravó surda que nem consegue mais mijar sem ajuda, faz uma festa barulhenta pra si mesma, com a justificativa de que é pra homenagear a velhota que já está em outra sintonia. Essas que, no natal e ano novo se reúnem em torno da mesa coberta com aquela toalha com estampa de cesta de frutas, tiram fotos abraçados, dançando, rindo e bebendo, para que nos dias vindouros do ano seguinte se vejam algumas vezes apenas, casais felizes que comemoram a virada de ano juntos, para que no ano seguinte estejam separados pelos motivos mais imbecis.

Acho que deu pra notar que eu estou com um péssimo humor. Normal até certo ponto pra mim, todo final de ano me deixa assim. Ver as pessoas encarando essas datas como uma espécie de "renovação" quando em verdade são só mais dois dias do ano, comemorando e se divertindo porque "assim manda a tradição", comemorando o aniversário de G-zus mas não cumprindo seu principal mandamento "Amai ao próximo como a ti mesmo", fingindo viver em comunhão uns com os outros e com o divino quando na verdade só estão sendo movidas pelos seus próprios motivos egoístas. Enfim, quem sou eu pra falar qualquer coisa, não?



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